16 de novembro de 2017

Pedi-lhe para levar-me aos quatro cantos do mundo. Do mundo meu no qual dissipei-me, perdido para mim mesmo. Mundo onde as obras das minhas vontades loucas nunca se completam, pois nada é incompleto, nada é inacabado, nem a solidão: a indivisível, una e sempre sóbria. Pois nada é incompleto na última passagem através do tempo que molda as incertezas e as eleva aos mais sagrados céus da nossa verdade. E nesses quatro cantos encontrei os meus pedaços. De mim as minhas partes, para que num último e coletivo abraço, encontrasse a alegria de sentir que nada é perdido para sempre enquanto a esperança nutrir o corpo e o atirar ao seu caminho.
Das coisas que falei com ela, não muito trago na memória, pois leve caminhei quando passei no último portal da minha anterior existência. E leve caminhei ao encontro do meu fogo. Foi ele que me recebeu e acariciou e me lambeu as feridas, e me tornou tão puro, tão desprovido de quaisquer sentidos. E no âmago do momento quando o meu último respiro deixou a minha alma... lá implantou a última palavra que ficou..
..amo-te!
....
(Denis Getman)



30 de outubro de 2017

Alguém chamou..
Olhei para trás.
Era ela.
Como sempre:
De presença pouco óbvia e algo discreta
mas muito intensa na pacata timidez.
Era estranho ver a sua relação com o tempo:
Odiavam-se mutuamente
por razões bastante inversas
mas estavam sempre juntos
embora cada qual com o seu silêncio.
Ela era sofisticada.
Num gesto simples e ligeiro prendia as atenções de quem por
ingénuo descuido nela tivesse posado os seus olhos.
Folheava as sombras dos dias passados como quem
folheia jornal numa manhã sem nada por fazer.
Despreocupadamente.
Eu gostava dela.
Falava sem mover os lábios.
Sempre com aquele sorriso no fundo do seu olhar desviado de qualquer ponto concreto.
Morria meros momentos antes de fechar os olhos.
Dizia que a realidade parecia-lhe sempre melhor quando se despede dela
como se fosse para sempre. 
Saía sempre pela janela.
No fim da viagem despedaçava-se inevitavelmente em mil estilhaços mas recusava-se a usar portas.
Dizia que os elevadores tinham pouco ar.
Preferia a liberdade de uma queda vertiginosa à sufocante segurança dos automatismos desprovidos de emoções.
Adorava as vistas que se abriam de lá de cima.
Dizia que tinham sido pássaros que lhe haviam ensinado aquele caminho.
E eu gostava dela assim: irracional e nua perante qualquer tento de vestir a sua timidez com espessas verdades.
.....
(Denis Getman)

19 de outubro de 2017

Das poucas vezes que me vi,
eu era um cavalo negro.
O preto era a minha cor,
o branco foi o meu segredo.
....
(Denis Getman)



13 de outubro de 2017

Talvez seja utópico pensarmos que existe alguma solução para os nossos tumultos. Talvez seja demasiado ingénuo esperar que o nosso tempestuoso mar algum dia acalme para nos dar o tão esperado descanso. E merecido, como tudo que fazemos, como se todo o esforço das nossas vidas fosse especialmente canalizado para a desejada recompensa. A paz. 
Talvez seja inofensivo pensar que o culminar da história seria como uma "fairy tale"- um conto de fadas para adormecer o universo feito de pedaços de realidades desejadas em rotas de colisão com os maiores medos de algum dia os virmos a emergir da superfície da nossa consciência. Um universo em franca expansão. Um respirar da força criativa. A sua lei é suprema a qualquer tento de abrandar o ritmo e de parar para recuperar o fôlego. É a própria vida a dançar sobre as réstias das esperanças que nos amamentou enquanto seres imaturos.
Sejamos francos, não temos descanso nem a tal paz utópica e absurda em total contrasenso com qualquer lógica, por mais avançada que seja. Parar é morrer, morrer é deixar de interagir..
Por isso, vamos viver enquanto estamos vivos. Vamos celebrar a vida enquanto há luz nos olhos. Vamos sentir, vamos sofrer, vamos amar, odiar, romper com as barreiras, vamos dançar nas núvens ao som da rebelde vontade de vencer mais um desafio. Mas vamos preservar a Paz das nossas almas e de todo o universo que nos rodeia.

....
(Denis Getman)



30 de setembro de 2017

Tudo em mim é uma dança. Leve, desprendida. Paira no ar e desliza ao som do ritmo da liberdade: de pensar, de ser, de não parar para olhar à volta. Tudo em mim é um remoinho de coisas estranhamente agradáveis: ao toque, ao sabor e ao olfacto. A exuberância de uma Primavera quente dentro de um Inverno gelado. Tudo em mim sente: o ritmo, a dança e todo o teatro à volta. 
....
(Denis Getman)


8 de setembro de 2017

Quem sou?
Escravo dos meus medos ou sou o dono da razão?
O que sou?
A sombra dos meus sonhos ou sou a inesgotável paixão?
Sou uma marca no caminho das memórias ou sou o temporal?
O criador das minhas coisas ou sou uma réplica da criação?
Será que sou o colapsar do tempo ou sou o universo em expansão?
Quem sou quando abdico de mim
e quando de mim despeço
para seguir o vento que não conhece a palavra "prisão".
E quando entrego o peso do corpo à terra
para poder voar..
Quem sou então?
....
(Denis Getman)



30 de agosto de 2017

-Sabes uma coisa?!!! (os seus olhos brilham)
-Não.. (sem emoção)
-Então sabes outra coisa?
-Talvez..
-É por seres mais velho?!!! (a insistir curioso)
-Não sei, pode ser que sim..
-E não te pesa?! Saber tanto..
-Hummm, as vezes.. (pensativo e de olhar mergulhado no horizonte)
-Então, é por isso que nunca andas atrás das borboletas e quando me vez a correr pela colina abaixo, dizes para eu abrandar?
-Eu faço isso? Não me lembro de ter feito tal coisa.
-Sim, e quando corro descalço pelos campos cheios de flores..
-Mas tu não sabes o que eu sei, e o que sei pode ser muito sério..
-Os adultos são sempre tão sérios.. Não se cansam de viver assim, sempre sérios, tristes?!
-Não somos tristes, apenas vividos, só isso..
-Vividos?!.. Hummm (fechou os olhos e levantou o nariz para sentir a leve brisa perfumada pelas ondas do mar)
-Sim, quando o caminho já não é novo e os pés não sentem a mesma alegria..
-Eu gosto de montar as borboletas!!! Elas levam-me para qualquer lado num piscar de olhos!
-Por isso é que foste criado uma criança. Para aprenderes a caminhar... caminhando. Não poderás andar o tempo todo em cima das borboletas..
-Não?!!!
-Não. Quando fores adulto, terás de caminhar por ti. A vida assim o quer. Mas quando lá chegares, já sabes tanta coisa que nenhuma borboleta te aguenta nas suas leves asas de seda.Nem tu queres voar de uma lado para outro. É quando encontras o teu lugar... e ficas!
....
(Denis Getman)





28 de agosto de 2017

Vem criar a nossa dança,
entrelaçar desejos,
intercalar vontades,
fundir os sentidos,
sorver o "agora",
beber do abundante momento do presente.
Vamos abdicar do visual
e absorvê-lo através dos sentimentos.
Vamos entregar-nos ao mais belo ato de prazer
e desfrutar do seu efeito..
..no movimento das nossas Almas..

....
(Denis Getman)



15 de agosto de 2017

Abri os olhos puxando as cortinas de uma alma 
que da realidade tão intensa 
não quer ficar queimada.
Lavei o meu corpo e perfumei o pensamento 
para não sufocar de tanto sofrimento.
Saí à rua e vi uma criança,
os seus olhos cor de mel sorriam para o céu
e lá no fundo vi a sua alma,
pura como cristal e destapada como felicidade.
Senti um frio, depois um arrepio
e fiz de mim um som de alegria.
E percorri memórias de tempos que se foram.
E tempos que se aproximam..
....
(Denis Getman)




24 de julho de 2017

Não te prometo que vou estar contigo para sempre.
Não o prometo perante a demasiada grandeza da eternidade que não cabe no meu tempo.
Não vou fugir do meu tempo nem subsistir sem ele embora, as vezes, eu possa negar a matemática divina.
Não te prometo esquecer de ti, caído no vazio sem corpo nem pensamento.
Gosto de ti mesmo que negue a tua generosa e tão meiga vontade de me receber no teu tão reconfortante abraço.
Nos teus braços que embalam todos os meus sonhos até que a imensa vontade de os viver faça nascer de dentro de mim acções concretas. Graças a ti. A cidadela das minhas esperanças que levas no teu ventre onde já estive feliz ao pertencer te de consciência e de toda a alma.
Tão teu. Como um filho a procura de uma mão sempre pronta para apaziguar qualquer medo perante algo tão grandioso como desconhecido. Quando junto a ti procurei abrir as asas e encher o peito de ar para começar a respirar-te sem medo de sufocar.
Não posso negar, esqueço-me de ti, por vezes, quando me perco num vazio frio entranhado nos ossos da minha existência. É quando fico oco por dentro porque arranco as memórias de ti. E por momentos fico órfão. Sozinho no universo. Presente em todas as ausências que já vivi quando te virei as costas sem nem me ter apercebido sequer que o tal não era possível enquanto persistir o amor e enquanto resistir ao tempo que se acobarda e foge.
Confesso, já te traí com impensáveis actos de desespero. Aquele não fui eu, foi minha sombra que escapou da tua luz e foi cavar a terra regada com as lágrimas de mendigo a procura de um abrigo.
Mas tu, sempre estarás aqui por mim, como sempre estiveste quando nasci em ti, para viver sem medo de ser eu aquele que tu quiseste. Um filho que pertence às raízes. Uma semente a germinar no teu seio.
A vida.
....
(Denis Getman)



23 de maio de 2017

Não te acanhes comigo,
não tires espaço ao nosso infinito.
Não nos abafes com a dor das incertezas.
Não negues a generosidade deste universo.
Apenas marca o meu mundo
com a tua tão especial presença.
E para sempre,

dure o que durar o nosso tempo..
....
(Denis Getman)


21 de maio de 2017

Ela fechava-se dentro do quarto, enchia o pensamento de silêncio e olhava o mundo que escondia-se atrás da janela dissolvido no escuro magma da noite.. Era o seu mundo, hermético, impenetrável a qualquer resquício da realidade verdadeira. Uma bolha dentro da qual tudo crepitava de esperança e de sonhos cor de rosa. Era o seu mundo de menina. Lindo e perfumado pela ingenuidade quase infantil. Os seus olhos furavam a densa lona do céu que agora cobria as copas das árvores e evidenciava os seus vultos. Engolia tudo que encontrava lá em baixo, na adormecida meditação da noite. Pequenas luzes cintilantes adornavam a negra cúpula, impermeável à luz do dia. Pareciam minúsculos buraquinhos que deixavam espreitar outros mundos que abundavam do lado de lá. Ali, do outro lado, as esperanças tomavam forma. Num fervilhar da incontível vontade de viver, tudo era tão tangível que nem precisava de ser pensado.. Apenas vivido sem medo. Naturalmente. Sem esconder os sentimentos. Sem nada querer além do que já se possuía naquele precioso momento. Sem mais adiar..
....

(Denis Getman)



19 de maio de 2017

Eu sou a luz de outras estrelas.
Os meus olhos captaram brilho
que ainda não tocou tuas retinas.
E nas pestanas trago pó de outros mundos.
Mundos onde os sois nunca se põem.
No coração guardo o vibrar do universo.
No meu sangue sopram ventos fortes.
Em fervorosa dança tudo desaba e morre.
Para ceder lugar a algo novo,
mas ainda não desperto.
....
(Denis Getman)




19 de janeiro de 2017



Quando penso paro,
quando paro morro,
quando morro esqueço
e das palavras me despeço.
Procuro meu lugar nos silêncios 
onde de novo me encontro
despojado de significados.
Desnudo como um sentimento,
leve como um sonho,
renasço sem a pujança
de uma vontade tortuosa.
Apenas eu na minha ainda virgem simplicidade.
Apenas eu assim como já fui
..há muito tempo.
....
(Denis Getman)


14 de janeiro de 2017

Hoje fiquei com saudades do amanhã onde o passado não construía muralhas de velhas memórias., 
Não existia castelos de inocentes ignorâncias e suaves medos não embalavam com uma voz tão doce como o vinho uma razão desprovida de firmeza.. 
Hoje tive tantas saudades do amanhã onde estava eu bonito homem, de ações delicadas, de sentimentos alegres, de pensamento livre..a transbordar de benévola intenção de ser feliz com o que era.. 
Num entorpecido esquecimento da realidade tinha me reencontrado em mim..
....
(Denis Getman)


Sou o mar.
Transbordo de ambições.
Quero extravasar as alegrias.
Perder as minhas próprias margens
às quais me lanço sem conter vontades
de as galgar e prosseguir a viajem.
De expandir.
Furar aquela linha
que se estende entre mim e o céu limpo
no estuário do meu conhecimento.
Rasgo as velas dos navegantes
Que se aventuram nas minhas águas a tentar a sorte.
Dissolvo todas as certezas
para depois naufragar nos medos
vezes sem conta
até abandonar os mais belos sonhos
e afogar toda a luz nas profundezas
daquilo que eu sou.
Mas não me lembro sempre.
E vou roendo cabos das pesadas âncoras do pensamento
que me prendeu as asas e molhou os meus olhos.
Que me enturva as alegrias,
e com o sal amargo das vivências.
Corrói o ferro de toda a minha sapiência
Sedimentada no fundo do silêncio.
..
(Denis Getman)



11 de janeiro de 2017

Não me peças a eternidade quando estou tão apertado de tempo..
Não grites tão alto se tudo o que tenho é o meu silêncio..
Cala as palavras,
Apaga as luzes do pensamento,
Abdica do passado
E das memórias que vergam os teus ombros..
Fecha os olhos
E vê-me com a tua alma,
Espreita me lá bem no fundo
do teu coração
onde por ti aguardo
desnudo, desprendido,
alegre na minha inconstância.
Tão sólida como amor que tenho pela vida
em toda a sua abundância.
E invariavelmente grato ao nosso universo
Que nos conduz até às improváveis circunstâncias
E nos indica o caminho
sem nos tirar as rédeas das mãos
de um destino
que juntos construímos!
....
(Denis Getman)



7 de janeiro de 2017

- Como é que a borboleta escolhe as cores?- perguntou sem tirar os olhos da mancha colorida ao fundo do jardim.
- Pelo cheiro. -respondeu quase sem pensar.
- Então não precisa de ver?!
- Precisa sim, para encontrar o caminho de volta.
-Hum, assim ela pode voar até às flores de olhos fechados, pode até estar a sonhar!!!- exclamou sem conter o espanto.
- Talvez.. O sonho move a sua vontade de voar..
- Então, se ela não acordar a tempo de voltar para a casa, a borboleta pode não regressar nunca?
- Não, ela regressa sempre, a sua saudade é mais forte que qualquer sonho.- apaziguou.
- E como é que ela sabe que tem saudade se está a sonhar?
- Ela sabe sempre. Sabe quando fica cansada de voar.
- E porquê insiste em voar até ficar cansada?
- Porque ela é borboleta! E porque ela ama as flores, ama voar, adora cheirar o seu aroma e sentir a liberdade a levantar as suas asas..
- Então porquê ela vive tão longe das flores?!!- exclamou quase a perder a paciência.
- Porque o amor faz voar e a saudade- regressar. Assim se vive o sonho e a realidade, assim como o dia e a noite que são inseparáveis mas que nunca se dão bem juntos. Cada um à espera da sua vez e cada um com o seu encanto.
Assim ficaram os dois a observar o ziguezaguear da borboleta a sobrevoar as flores. O seu voo tinha algo de inconstante, algo de muito frágil, quase que inesperado. As suas asas pareciam pétalas a trepidar com cada movimento do ar que trazia um generoso bouquet de aromas adocicados e notas frutadas. O verão florescia em toda a sua exuberância e explodia com mil cores que tingiam tudo a volta. Assim ficaram os dois a observar a borboleta.
- Como é que a borboleta escolhe as cores?- perguntou sem tirar os olhos da mancha colorida ao fundo do jardim.
- Pelo cheiro. -respondeu quase sem pensar.
- Então não precisa de ver?!
- Precisa sim, para encontrar o caminho de volta.
-Hum, assim ela pode voar até às flores de olhos fechados, pode até estar a sonhar!!!- exclamou sem conter o espanto.
- Talvez.. O sonho move a sua vontade de voar..
- Então, se ela não acordar a tempo de voltar para a casa, a borboleta pode não regressar nunca?
- Não, ela regressa sempre, a sua saudade é mais forte que qualquer sonho.- apaziguou.
- E como é que ela sabe que tem saudade se está a sonhar?
- Ela sabe sempre. Sabe quando fica cansada de voar.
- E porquê insiste em voar até ficar cansada?
- Porque ela é borboleta! E porque ela ama as flores, ama voar, adora cheirar o seu aroma e sentir a liberdade a levantar as suas asas..
- Então porquê ela vive tão longe das flores?!!- exclamou quase a perder a paciência.
- Porque o amor faz voar e a saudade- regressar. Assim se vive o sonho e a realidade, assim como o dia e a noite que são inseparáveis mas que nunca se dão bem juntos. Cada um à espera da sua vez e cada um com o seu encanto.
Assim ficaram os dois a observar o ziguezaguear da borboleta a sobrevoar as flores. O seu voo tinha algo de inconstante, algo de muito frágil, quase que inesperado. As suas asas pareciam pétalas a trepidar com cada movimento do ar que trazia um generoso bouquet de aromas adocicados e notas frutadas. O verão florescia em toda a sua exuberância e explodia com mil cores que tingiam tudo a volta. Assim ficaram os dois a observar a borboleta.

....
(Denis Getman)


6 de janeiro de 2017

Sob fortes aplausos do silêncio morro em mim
sem nada querer saber dos significados que vestem os meus pensamentos.
Enquanto caminho num túnel cheio de luz, 
os meus olhos permanecem tão fechados para qualquer definição da beleza. 
As formas já não me baralham. 
Geometria já não é o meu forte.
Contemplo-me num ato de completa abstracção do meu próprio corpo onde o observador e o observado são diferentes objectos da mesma entidade.
Desato a minha mente dos padrões outrora aprendidos. 

Por breves segundos os meus pés abandonam o chão. 
Voo.
A liberdade já não me seduz como antes porque a vivo.
E vivida assim ela parece ser tão minha, como sempre foi embora escondida a espera deste dia.
....
(Denis Getman)





Sou sofisticado,
simplifico tudo.
Abrevio o que está demasiado comprido 
e corto os excessos que atrapalham o pensamento.
Sou implacável.
Não deixo que me traiam com aborrecidas descrições.
Dispenso as desculpas que cabem num discurso.
Sou filosófico.
Não vivo neste mundo.
Descrevo o que está escondido
por detrás de uma lógica
que se não dá vómitos,
provoca a sonolência.
Nem me comovo com serenatas.
Quero passar direto às acções.
Sou impaciente.
Não ando aos rodeios.
Não tenho tempo.
Fervo em pouca água e sigo os rastos do vento.
Mas nem assim me encontro.
Sou demasiado inconstante.
Mudo mesmo antes de tomar alguma forma.
Contornos não são meus amigos.
Intrigas e surpresas não me alcançam.
Sou tão subtil.
Quase invisível. E delicado
como o ferro sobre as brasas quentes.
Só se vê faíscas.
Sou eu.
Em mim me escondo.
E dentro do meu corpo adormeço.
Para repor as energias.
E descansar dos sonhos.
Sou todo um enigma.
E tudo que me desvenda
tira me fora de mim.
Mas como sou limitado..
De mim não passo.

..
(Denis Getman)




4 de janeiro de 2017



Hoje não quero ficar colado à terra
estico os braços e encosto-me ao céu.
Levanto as promessas do chão lamacento
e seco as lágrimas com a força dos ventos.
..
Hoje não me apetece ficar no chão,
do coração faço a bússola da minha esperança.
Na mão fria ostento estandarte
de velhos slogans que regiam os meus atos.
..
No meu peito bate tambor de guerra
E no brasão levo espada e uma rosa.
Por isso digo-vos com toda a prosa
Hoje não fico colado à terra!
..
(Denis Getman)


O significado nem sempre está nas palavras. Silêncios, por vezes os silêncios falam mais que qualquer discurso. Nenhuma palavra é capaz de alterar o silêncio, de o tornar mais bonito, mais atrativo, enfim, diferente, pois essa é a intenção. Abre-se a boca, insufla-se o peito, contraem-se os lábios, moldam-se em torno dos sons que cuspimos na direção do interlocutor. Pobre. Quer dizer, pobres. Na sua presença cheia de ausência o vácuo que se ergue entre os dois é tão difícil de suportar. Parece mesmo que essa solidão que se sente debaixo das boas aparência veio para ficar. Instalou-se. Mas incomoda. Uma moideira, nem é a dor, algo menos agudo mas igualmente incomodativo. Uma sensação de aperto. Sintomas? Talvez. Mas o silêncio está lá, nem se mexeu nem um pouco. Aguarda. Tanta paciência. Fico sem palavras. Mas sei que não lhe fazem falta. Podem ter a certeza..
..
(Denis Getman)




Escrevo para ti que és surdo aos medos, alérgico à indiferença, impaciente para com a inércia e falsos comodismos.
Conto as minhas histórias para ti quem sabe o valor das palavras e o preço do silêncio. 
Tu, quem sabe destilar a realidade, separar o imaginário do ilusório e alimentar o sonho de uma vida sem memórias. 
 Cada conto tem a sua história e cada história tem o seu contador.
..
(Denis Getman)´