19 de janeiro de 2017



Quando penso paro,
quando paro morro,
quando morro esqueço
e das palavras me despeço.
Procuro meu lugar nos silêncios 
onde de novo me encontro
despojado de significados.
Desnudo como um sentimento,
leve como um sonho,
renasço sem a pujança
de uma vontade tortuosa.
Apenas eu na minha ainda virgem simplicidade.
Apenas eu assim como já fui
..há muito tempo.
....
(Denis Getman)


14 de janeiro de 2017

Hoje fiquei com saudades do amanhã onde o passado não construía muralhas de velhas memórias., 
Não existia castelos de inocentes ignorâncias e suaves medos não embalavam com uma voz tão doce como o vinho uma razão desprovida de firmeza.. 
Hoje tive tantas saudades do amanhã onde estava eu bonito homem, de ações delicadas, de sentimentos alegres, de pensamento livre..a transbordar de benévola intenção de ser feliz com o que era.. 
Num entorpecido esquecimento da realidade tinha me reencontrado em mim..
....
(Denis Getman)


Sou o mar.
Transbordo de ambições.
Quero extravasar as alegrias.
Perder as minhas próprias margens
às quais me lanço sem conter vontades
de as galgar e prosseguir a viajem.
De expandir.
Furar aquela linha
que se estende entre mim e o céu limpo
no estuário do meu conhecimento.
Rasgo as velas dos navegantes
Que se aventuram nas minhas águas a tentar a sorte.
Dissolvo todas as certezas
para depois naufragar nos medos
vezes sem conta
até abandonar os mais belos sonhos
e afogar toda a luz nas profundezas
daquilo que eu sou.
Mas não me lembro sempre.
E vou roendo cabos das pesadas âncoras do pensamento
que me prendeu as asas e molhou os meus olhos.
Que me enturva as alegrias,
e com o sal amargo das vivências.
Corrói o ferro de toda a minha sapiência
Sedimentada no fundo do silêncio.
..
(Denis Getman)



11 de janeiro de 2017

Não me peças a eternidade quando estou tão apertado de tempo..
Não grites tão alto se tudo o que tenho é o meu silêncio..
Cala as palavras,
Apaga as luzes do pensamento,
Abdica do passado
E das memórias que vergam os teus ombros..
Fecha os olhos
E vê-me com a tua alma,
Espreita me lá bem no fundo
do teu coração
onde por ti aguardo
desnudo, desprendido,
alegre na minha inconstância.
Tão sólida como amor que tenho pela vida
em toda a sua abundância.
E invariavelmente grato ao nosso universo
Que nos conduz até às improváveis circunstâncias
E nos indica o caminho
sem nos tirar as rédeas das mãos
de um destino
que juntos construímos!
....
(Denis Getman)



7 de janeiro de 2017

- Como é que a borboleta escolhe as cores?- perguntou sem tirar os olhos da mancha colorida ao fundo do jardim.
- Pelo cheiro. -respondeu quase sem pensar.
- Então não precisa de ver?!
- Precisa sim, para encontrar o caminho de volta.
-Hum, assim ela pode voar até às flores de olhos fechados, pode até estar a sonhar!!!- exclamou sem conter o espanto.
- Talvez.. O sonho move a sua vontade de voar..
- Então, se ela não acordar a tempo de voltar para a casa, a borboleta pode não regressar nunca?
- Não, ela regressa sempre, a sua saudade é mais forte que qualquer sonho.- apaziguou.
- E como é que ela sabe que tem saudade se está a sonhar?
- Ela sabe sempre. Sabe quando fica cansada de voar.
- E porquê insiste em voar até ficar cansada?
- Porque ela é borboleta! E porque ela ama as flores, ama voar, adora cheirar o seu aroma e sentir a liberdade a levantar as suas asas..
- Então porquê ela vive tão longe das flores?!!- exclamou quase a perder a paciência.
- Porque o amor faz voar e a saudade- regressar. Assim se vive o sonho e a realidade, assim como o dia e a noite que são inseparáveis mas que nunca se dão bem juntos. Cada um à espera da sua vez e cada um com o seu encanto.
Assim ficaram os dois a observar o ziguezaguear da borboleta a sobrevoar as flores. O seu voo tinha algo de inconstante, algo de muito frágil, quase que inesperado. As suas asas pareciam pétalas a trepidar com cada movimento do ar que trazia um generoso bouquet de aromas adocicados e notas frutadas. O verão florescia em toda a sua exuberância e explodia com mil cores que tingiam tudo a volta. Assim ficaram os dois a observar a borboleta.
- Como é que a borboleta escolhe as cores?- perguntou sem tirar os olhos da mancha colorida ao fundo do jardim.
- Pelo cheiro. -respondeu quase sem pensar.
- Então não precisa de ver?!
- Precisa sim, para encontrar o caminho de volta.
-Hum, assim ela pode voar até às flores de olhos fechados, pode até estar a sonhar!!!- exclamou sem conter o espanto.
- Talvez.. O sonho move a sua vontade de voar..
- Então, se ela não acordar a tempo de voltar para a casa, a borboleta pode não regressar nunca?
- Não, ela regressa sempre, a sua saudade é mais forte que qualquer sonho.- apaziguou.
- E como é que ela sabe que tem saudade se está a sonhar?
- Ela sabe sempre. Sabe quando fica cansada de voar.
- E porquê insiste em voar até ficar cansada?
- Porque ela é borboleta! E porque ela ama as flores, ama voar, adora cheirar o seu aroma e sentir a liberdade a levantar as suas asas..
- Então porquê ela vive tão longe das flores?!!- exclamou quase a perder a paciência.
- Porque o amor faz voar e a saudade- regressar. Assim se vive o sonho e a realidade, assim como o dia e a noite que são inseparáveis mas que nunca se dão bem juntos. Cada um à espera da sua vez e cada um com o seu encanto.
Assim ficaram os dois a observar o ziguezaguear da borboleta a sobrevoar as flores. O seu voo tinha algo de inconstante, algo de muito frágil, quase que inesperado. As suas asas pareciam pétalas a trepidar com cada movimento do ar que trazia um generoso bouquet de aromas adocicados e notas frutadas. O verão florescia em toda a sua exuberância e explodia com mil cores que tingiam tudo a volta. Assim ficaram os dois a observar a borboleta.

....
(Denis Getman)


6 de janeiro de 2017

Sob fortes aplausos do silêncio morro em mim
sem nada querer saber dos significados que vestem os meus pensamentos.
Enquanto caminho num túnel cheio de luz, 
os meus olhos permanecem tão fechados para qualquer definição da beleza. 
As formas já não me baralham. 
Geometria já não é o meu forte.
Contemplo-me num ato de completa abstracção do meu próprio corpo onde o observador e o observado são diferentes objectos da mesma entidade.
Desato a minha mente dos padrões outrora aprendidos. 

Por breves segundos os meus pés abandonam o chão. 
Voo.
A liberdade já não me seduz como antes porque a vivo.
E vivida assim ela parece ser tão minha, como sempre foi embora escondida a espera deste dia.
....
(Denis Getman)





Sou sofisticado,
simplifico tudo.
Abrevio o que está demasiado comprido 
e corto os excessos que atrapalham o pensamento.
Sou implacável.
Não deixo que me traiam com aborrecidas descrições.
Dispenso as desculpas que cabem num discurso.
Sou filosófico.
Não vivo neste mundo.
Descrevo o que está escondido
por detrás de uma lógica
que se não dá vómitos,
provoca a sonolência.
Nem me comovo com serenatas.
Quero passar direto às acções.
Sou impaciente.
Não ando aos rodeios.
Não tenho tempo.
Fervo em pouca água e sigo os rastos do vento.
Mas nem assim me encontro.
Sou demasiado inconstante.
Mudo mesmo antes de tomar alguma forma.
Contornos não são meus amigos.
Intrigas e surpresas não me alcançam.
Sou tão subtil.
Quase invisível. E delicado
como o ferro sobre as brasas quentes.
Só se vê faíscas.
Sou eu.
Em mim me escondo.
E dentro do meu corpo adormeço.
Para repor as energias.
E descansar dos sonhos.
Sou todo um enigma.
E tudo que me desvenda
tira me fora de mim.
Mas como sou limitado..
De mim não passo.

..
(Denis Getman)




4 de janeiro de 2017



Hoje não quero ficar colado à terra
estico os braços e encosto-me ao céu.
Levanto as promessas do chão lamacento
e seco as lágrimas com a força dos ventos.
..
Hoje não me apetece ficar no chão,
do coração faço a bússola da minha esperança.
Na mão fria ostento estandarte
de velhos slogans que regiam os meus atos.
..
No meu peito bate tambor de guerra
E no brasão levo espada e uma rosa.
Por isso digo-vos com toda a prosa
Hoje não fico colado à terra!
..
(Denis Getman)


O significado nem sempre está nas palavras. Silêncios, por vezes os silêncios falam mais que qualquer discurso. Nenhuma palavra é capaz de alterar o silêncio, de o tornar mais bonito, mais atrativo, enfim, diferente, pois essa é a intenção. Abre-se a boca, insufla-se o peito, contraem-se os lábios, moldam-se em torno dos sons que cuspimos na direção do interlocutor. Pobre. Quer dizer, pobres. Na sua presença cheia de ausência o vácuo que se ergue entre os dois é tão difícil de suportar. Parece mesmo que essa solidão que se sente debaixo das boas aparência veio para ficar. Instalou-se. Mas incomoda. Uma moideira, nem é a dor, algo menos agudo mas igualmente incomodativo. Uma sensação de aperto. Sintomas? Talvez. Mas o silêncio está lá, nem se mexeu nem um pouco. Aguarda. Tanta paciência. Fico sem palavras. Mas sei que não lhe fazem falta. Podem ter a certeza..
..
(Denis Getman)




Escrevo para ti que és surdo aos medos, alérgico à indiferença, impaciente para com a inércia e falsos comodismos.
Conto as minhas histórias para ti quem sabe o valor das palavras e o preço do silêncio. 
Tu, quem sabe destilar a realidade, separar o imaginário do ilusório e alimentar o sonho de uma vida sem memórias. 
 Cada conto tem a sua história e cada história tem o seu contador.
..
(Denis Getman)´